sexta-feira, 7 de novembro de 2008

“Uma aposta ganha!”

Entrevista Dr. Pompeu Martins

No final da “corrida” pelas 7 regiões de Portugal a auscultar os jovens sobre as políticas europeias da juventude, é tempo de reflexão e balanço. A poucos dias do encontro nacional - do qual resultará um documento oficial de recomendações a serem enviadas à Comissão Europeia - Pompeu Martins, director da Agência Nacional para o Programa Juventude em Acção, fala-nos das expectativas superadas, da importância da participação política, das juventudes portuguesas e dos planos futuros.

Rafaela Grácio – Qual o balanço, após a conclusão dos eventos regionais?

Pompeu Martins – Acho que é uma aposta ganha porque os jovens, para além de terem escutado decisores políticos e investigadores de diferentes áreas, construíram um documento novo. Este contributo já é efectivo, pois este processo não volta atrás. É algo que vai fazer algum efeito naquelas que devem ser as decisões para a política europeia.

RG – Durante este processo de auscultação regional, houve algumas surpresas?

PM – Surpreendeu-nos o facto de existirem propostas de jovens para as quais já existia uma resposta dos diferentes sectores, e surpreendeu-nos o facto de eles ainda não sentirem de uma forma tão substantiva essas mesmas propostas. Isto é desde logo um indicador para que quem está nos diversos postos faça um reforço da comunicação dessas mesmas propostas já existentes.
Acabou por nos surpreender, também, a criatividade por um lado, a objectividade por outro e a manutenção do espírito da utopia. Acho importante, mais do que nunca, o facto de termos encontrado para cima de 500 jovens que se juntaram em todo o país, a construir um documento, e também, ao mesmo tempo, termos encontrado cerca de 500 jovens a construir as suas utopias, o que acaba por ser a voz do seu tempo, e a marca da sua geração. E é isso que se exige a todas as gerações, e que está a ser exigido a esta também. É esse processo de construção daquilo que eles pretendem, seja para realizar já, seja para realizar a médio prazo.

RG - Há alguma perspectiva da Agência Nacional de repetir este tipo de auscultações?

PM - A Agência Nacional (AN) teve uma apreciação muito positiva deste modelo de auscultação da juventude. Já no inicio do próximo ano, estamos a planear executar melhor as politicas da juventude em matéria de inclusão social. Neste sentido, já esta programada uma volta pelo país para, junto dos interlocutores que têm desenvolvido (no âmbito do programa Juventude em Acção) projectos que se direccionem para a inclusão social, percebermos quais são os pontos fortes, os pontos fracos, as ameaças e as oportunidades que o programa lhes conferiu enquanto co-organizadores do projecto. Por outro lado, queremos perceber ao nível da inclusão em concreto quais foram as dificuldades de trajecto e em que é que este programa se transformou enquanto ferramenta de inclusão social. E como este modelo resultou [modelo de auscultação da Semana Europeia da Juventude], nós vamos fazer um percurso muito idêntico, sempre numa linha claramente politica de agir dentro da AN, sendo sustentados naquilo que é o pensamento e a acção dos diferentes interlocutores que estão no terreno. Não vemos isto como uma gestão isolada dentro das directivas que nos chegam da Comissão Europeia, queremos sim, com o apoio da própria Comissão estar sempre juntos daqueles que tenham conhecimento efectivo no terreno, os quais muitas vezes nós não conhecemos e que só ouvindo é que conseguimos decidir melhor sobre como fazer investimento publico em matéria de politicas da juventude.

RG - Ao longo destes encontros regionais foi recorrente ouvi-lo dizer que “a política não se esgota nos partidos.” Acha que é importante desmistificar isto?

PM - É importante quebrar dois tabus. O primeiro é que não há mal nenhum em participar na vida política através dos partidos políticos e das organização políticas, independentemente de essa participação ser feita como militante activo do partido, ser ocupando cargos de nomeação ou de eleição partidária. Hoje em dia, vive-se um pouco de preconceitos, e os preconceitos, à partida, são todos maus porque não se sustentam em realidades confirmadas. Por outro lado, é também importante dizer que a participação, quando falamos em políticas, não se esgota nos partidos políticos, mas sim na participação na vida das comunidades. Quando um grupo de cidadãos vem aqui dar uma opinião e dizer o que pretende das políticas está a participar activamente na política. E está a participar de forma construtiva e de forma livre e atento aos seus direitos e, portanto, sob processo de cidadania. Acho que esta Semana Europeia da Juventude está a quebrar estes dois tabus. Quando estamos a discutir politica estamos a garantir os nossos direitos, a reforçar os nossos deveres, estamos a ser cidadãos melhores e isto faz-se dentro dos partidos políticos e em fóruns desta natureza.

RG – Como define a(s) juventude(s) portuguesas numa frase, ou numa ideia?

PM – Acho que as juventudes portuguesas estão como devem estar. Como o seu tempo as manda estar. Com tudo de bom e tudo de mau que as gerações sempre têm e sempre tiveram. Agora, esta é sem dúvida a geração mais bem preparada de sempre. Felizmente, os níveis de escolaridade desta geração são os maiores de sempre, o que faz com que o desafio sobre o ponto de vista civilizacional seja também maior. E aí, encontramos um mundo em completa transformação, em que a própria noção de tempo e de espaço é completamente diferente daquilo que era há 10 anos atrás. Esta nova geração tem esse grande desafio pela frente, pois para além de ser a mais bem preparada, é aquela que está a “apanhar” com as mudanças mais rápido e isso não é fácil. Mas também penso que o reverso da medalha é olharmos e vermos gente capaz e gente que apenas está a dar sinais de que quer alguma coisa, mas que quer alguma coisa de forma diferente, e isso tem a ver com o seu tempo. A nossa grande expectativa é que possamos todos perceber e criar as pontes necessárias porque a juventude não se fecha em si própria. Esta geração o que terá para dizer, terá para dizer aos mais pequenos, porque os vai criar, e terá par dizer aos adultos com quem conviverá durante muito tempo. E é desta forma, feita destes pactos colectivos, pactos com a comunidade, que eu acredito que conseguimos melhorar a nossa prestação enquanto cidadãos e termos, efectivamente, sociedades mais sustentáveis, mais equilibradas e mais desenvolvidas.

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