Os jovens, Portugal e a Europa
Porto, 15 de Outubro de 2008. Depois de uma volta quase completa pelo país, as políticas da juventude e a sua aplicação futura no contexto europeu continuam a estar no centro de debates. Na verdade, “muito mudou em Portugal desde a sua entrada na União Europeia”, refere Miguel Lemos, representante do Governo Civil do Porto. “Não podemos separar Portugal do contexto europeu”, continua.
Luís Alves, presidente da Federação Nacional das Associações Juvenis (FNAJ) confirma com o exemplo: “Hoje não é possível falar de Educação Formal sem ter em conta o processo de Bolonha, da mesma forma que não é possível falar de Educação Não Formal sem referir a actualidade no âmbito europeu”.
Os “dados estão lançados” e não se pode escapar de uma realidade cada vez mais global que, ao mesmo tempo, se mostra mais exigente. O presidente da FNAJ não tem dúvidas: “esta é a geração mais qualificada de sempre”, afirma. Daí o papel importantíssimo dos jovens em assumir a responsabilidade de mudança quanto mais não seja pelo seu “inconformismo e irreverência”, recorda Miguel Lemos, “eles têm as ferramentas necessárias para levar o projecto europeu a bom porto”.
Da escala europeia para a global
Hoje em dia, é cada vez mais difícil não se pensar “global”. Com o acesso à informação cada vez mais disseminado, as novas tecnologias e a facilidade de comunicação entre os quatro cantos do mundo, torna-se quase impossível não saber, ou não ter conhecimento sobre o que se passa além fronteiras. Mas estarão os jovens preparados para falar de Cooperação Global e elaborar recomendações respeitantes a temáticas tão complexas como as políticas de vizinhança e alargamento; os objectivos de desenvolvimento do Milénio; as relações UE-América Latina e as relações UE-África? Desta feita, foi o que fui tentar saber.
Eduardo, um participante no grupo da Cooperação Global, acha que não: “há aqui muitos conceitos dos quais nunca ouvi falar”. Eduardo refere-se, por exemplo, aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs). Num grupo de 10 pessoas apenas uma, a Mariana, já tinha ouvido falar dos 8 ODMs. Será um reflexo da sabedoria nacional referente ao tema? Andreia Henriques, a facilitadora do grupo, responde: “cerca de 85% da população portuguesa nunca ouviu falar dos Objectivos do Milénio.” (www.objectivo2015.org)
Depois de esclarecidos sobre os objectivos do milénio e sobre os objectivos do grupo de trabalho, e depois de lançadas as primeiras ideias numa dinâmica intitulada silent floor (em que cada pessoa escreve aquilo que acha mais importante ser discutido) os participantes seleccionaram as temáticas a debater. As relações UE-América Latina ficaram de fora. Ninguém consegue ao certo explicar porquê. “É interessante, mas…”, dizem.
De entre os temas propostos: Objectivos do Milénio; relações UE-África e Políticas de Vizinhança e Alargamento, Jorge, Eduardo e Leny escolheram o último. Mas parece não ser fácil. Olham-se em jeito cúmplice de quem sabe que tem muito para discutir mas não sabe por onde começar. “É difícil chegar a recomendações concretas e estamos a correr contra o tempo”, confessa Eduardo.
Findo tempo de elaboração das recomendações de cada subgrupo, o debate abre-se a todos os participantes. Este é o momento de se falar das recomendações feitas por todos, de forma aberta, de modo a esclarecer eventuais dúvidas e alterar, se necessário, as propostas apresentadas. A Mariana não está satisfeita. “Não vi debatida a questão financeira e era extremamente importante dada a crise que estamos a atravessar a nível global”, lamenta. “E a questão da entrada da Turquia na UE era também fundamental e ninguém quis falar disso”, reforça. Mas como já o Eduardo tinha dito, aqui corre-se contra o tempo e “não se pode estar agora a fazer alterações dessa dimensão porque temos de terminar. Foi-vos dada a oportunidade para inserirem os temas que quisessem”, esclarece a facilitadora.
Os métodos de consulta
Ao longo de todo o processo de auscultação directa aos jovens, os métodos utilizados baseiam-se na Educação Não Formal (ENF). Este tipo de metodologia prevê a participação voluntária de cada pessoa envolvida, e assenta no princípio fundamental do consenso do grupo na tomada de decisões. A importância de trabalhar em grupo é aqui vista como um factor chave no desenvolvimento de aspectos referentes ao relacionamento interpessoal, nomeadamente: a tolerância, a escuta activa, o respeito pelo outro e a aceitação de um método altamente democrático em que todos decidem em conjunto o que tratar, como e porquê. É por isso normal, que nem todos os temas sugeridos pelos intervenientes sejam aprofundados, em prol de outros que o grupo (como um todo) achou de maior conveniência trabalhar.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Evento Regional de Lisboa
O 5º elemento
Lisboa, 14 de Outubro de 2008. Foi no auditório do IPJ do Parque das Nações que o evento regional de Lisboa e Vale do Tejo teve início. Um grupo diverso, de cerca de meia centena de jovens esteve presente para elaborar as recomendações da região a ser enviadas à Comissão Europeia.
Ainda na mesa de abertura, Tiago Soares, presidente do Conselho Nacional da Juventude, entidade co-organizadora do evento nacional, deixou um recado: “Estamos num processo de criação de um quadro novo das políticas da juventude. A vocês desejo-vos muita força, muita energia e muito trabalho. Estamos aqui para construir os nossos sonhos!”.
Emancipação Juvenil
Em Lisboa, dei um “pulinho” ao grupo da Emancipação Juvenil. Era um grupo muito diferente entre si, talvez por isso muito silencioso. Ana Isabel, facilitadora, sugeria “ideias mais práticas” justificando que, só assim elas são “mais realistas e possíveis de serem trabalhadas”. As temáticas a debater centraram-se no acesso à habitação e no acesso ao emprego.
Marcelo Fonseca, 18 anos, é natural de Rio Maior e pertence à Juventude Socialista. Para ele, o grupo “não era mau de todo”, mas como vinha muita gente do ensino profissional “as prioridades eram bastante diferentes”. Para além disso, Marcelo achou que a ordem de trabalhos estava condicionada ao máximo. “Eu gostava que se tivesse tocado na questão da maioridade e na questão do voto antes dos 18 anos, mas isso não se encaixava nem no emprego, nem na habitação, por exemplo”.
Para João Almeida, 20 anos, do projecto Agora Sim! (parte do programa Escolhas) este foi um “grupo interessante mas houve algumas dificuldade no sentido de trabalhar em grupo, porque há sempre aquela timidez e falta de à vontade”. No entanto, “foi fixe conhecer pessoas novas.” Para casa, diz levar algumas informações novas referentes “às dificuldades que se tem em comprar ou alugar uma casa e às ajudas que o Estado devia dar aos jovens e não dá”, mas, grosso modo, classifica esta experiência como uma “experiência porreira e a repetir”.
Juventude em Acção
O ciclo de eventos regionais no âmbito da Semana Europeia da Juventude é organizado pela Agência Nacional (AN) para o Programa Juventude em Acção. Este programa, totalmente direccionado para os jovens, tem como objectivo “estimular o sentido activo de cidadania europeia, a solidariedade e tolerância entre os jovens europeus e o seu envolvimento na construção do futuro da União Europeia (UE). O programa promove a mobilidade dentro e fora das fronteiras europeias, a educação não formal, o diálogo intercultural e encoraja a inclusão de todos os jovens, independentemente da sua origem educacional, social ou cultural.” A UE direccionou para o programa Juventude em Acção um total de 885 milhões de euros distribuídos por todos os Estados-membros + 4 (Turquia, Islândia, Noruega e Liechtenstein) a serem investidos entre os anos 2007 (ano de entrada de vigor do programa) e 2013 (ano em que o programa JA termina dando lugar a um outro no ano seguinte).
Para Pompeu Martins, director da AN, com o programa Juventude em Acção ”é dado um passo à frente na justiça social. Pois todos os jovens independentemente da sua condição económico-social podem participar.”
Quanto à iniciativa europeia em consultar os jovens sobre as políticas da juventude Pompeu Martins desmistifica, “às vezes paira no ar que a política se esgota nos partidos. Não é verdade. O que hoje fazemos aqui [no evento regional] é política.”
Um exemplo de sucesso
Alexandre Jacinto, presidente da H2O, uma associação juvenil de Arrouquelas, concelho de Rio Maior, é o coordenador do projecto By the sea we learn. Este projecto teve o apoio do programa Juventude em Acção em 2007, e foi o projecto escolhido para representar Portugal no evento central da Semana Europeia da Juventude, em Bruxelas. By the sea we learn foi uma iniciativa que juntou 52 jovens vindos de 9 países da Europa (Portugal, Espanha, Itália, Hungria, Letónia, Estónia, Bulgária, Polónia e Roménia) a bordo do navio Creoula para fazer a travessia Lisboa-Portimão.
Durante a sessão de abertura do evento regional em Lisboa, Alexandre teve a oportunidade de mostrar um vídeo do projecto. No final da apresentação, aproveitou ainda para lançar o desafio: “ Um bom projecto faz-nos crescer como cidadãos de uma Europa que ser quer mais alargada. O programa Juventude em Acção tornou-se numa ferramenta essencial para nós. É trabalhoso, sim. Mas tudo o que dá muito trabalho, também dá muito gozo!”
Rafaela Grácio
Lisboa, 14 de Outubro de 2008. Foi no auditório do IPJ do Parque das Nações que o evento regional de Lisboa e Vale do Tejo teve início. Um grupo diverso, de cerca de meia centena de jovens esteve presente para elaborar as recomendações da região a ser enviadas à Comissão Europeia.
Ainda na mesa de abertura, Tiago Soares, presidente do Conselho Nacional da Juventude, entidade co-organizadora do evento nacional, deixou um recado: “Estamos num processo de criação de um quadro novo das políticas da juventude. A vocês desejo-vos muita força, muita energia e muito trabalho. Estamos aqui para construir os nossos sonhos!”.
Emancipação Juvenil
Em Lisboa, dei um “pulinho” ao grupo da Emancipação Juvenil. Era um grupo muito diferente entre si, talvez por isso muito silencioso. Ana Isabel, facilitadora, sugeria “ideias mais práticas” justificando que, só assim elas são “mais realistas e possíveis de serem trabalhadas”. As temáticas a debater centraram-se no acesso à habitação e no acesso ao emprego.
Marcelo Fonseca, 18 anos, é natural de Rio Maior e pertence à Juventude Socialista. Para ele, o grupo “não era mau de todo”, mas como vinha muita gente do ensino profissional “as prioridades eram bastante diferentes”. Para além disso, Marcelo achou que a ordem de trabalhos estava condicionada ao máximo. “Eu gostava que se tivesse tocado na questão da maioridade e na questão do voto antes dos 18 anos, mas isso não se encaixava nem no emprego, nem na habitação, por exemplo”.
Para João Almeida, 20 anos, do projecto Agora Sim! (parte do programa Escolhas) este foi um “grupo interessante mas houve algumas dificuldade no sentido de trabalhar em grupo, porque há sempre aquela timidez e falta de à vontade”. No entanto, “foi fixe conhecer pessoas novas.” Para casa, diz levar algumas informações novas referentes “às dificuldades que se tem em comprar ou alugar uma casa e às ajudas que o Estado devia dar aos jovens e não dá”, mas, grosso modo, classifica esta experiência como uma “experiência porreira e a repetir”.
Juventude em Acção
O ciclo de eventos regionais no âmbito da Semana Europeia da Juventude é organizado pela Agência Nacional (AN) para o Programa Juventude em Acção. Este programa, totalmente direccionado para os jovens, tem como objectivo “estimular o sentido activo de cidadania europeia, a solidariedade e tolerância entre os jovens europeus e o seu envolvimento na construção do futuro da União Europeia (UE). O programa promove a mobilidade dentro e fora das fronteiras europeias, a educação não formal, o diálogo intercultural e encoraja a inclusão de todos os jovens, independentemente da sua origem educacional, social ou cultural.” A UE direccionou para o programa Juventude em Acção um total de 885 milhões de euros distribuídos por todos os Estados-membros + 4 (Turquia, Islândia, Noruega e Liechtenstein) a serem investidos entre os anos 2007 (ano de entrada de vigor do programa) e 2013 (ano em que o programa JA termina dando lugar a um outro no ano seguinte).
Para Pompeu Martins, director da AN, com o programa Juventude em Acção ”é dado um passo à frente na justiça social. Pois todos os jovens independentemente da sua condição económico-social podem participar.”
Quanto à iniciativa europeia em consultar os jovens sobre as políticas da juventude Pompeu Martins desmistifica, “às vezes paira no ar que a política se esgota nos partidos. Não é verdade. O que hoje fazemos aqui [no evento regional] é política.”
Um exemplo de sucesso
Alexandre Jacinto, presidente da H2O, uma associação juvenil de Arrouquelas, concelho de Rio Maior, é o coordenador do projecto By the sea we learn. Este projecto teve o apoio do programa Juventude em Acção em 2007, e foi o projecto escolhido para representar Portugal no evento central da Semana Europeia da Juventude, em Bruxelas. By the sea we learn foi uma iniciativa que juntou 52 jovens vindos de 9 países da Europa (Portugal, Espanha, Itália, Hungria, Letónia, Estónia, Bulgária, Polónia e Roménia) a bordo do navio Creoula para fazer a travessia Lisboa-Portimão.
Durante a sessão de abertura do evento regional em Lisboa, Alexandre teve a oportunidade de mostrar um vídeo do projecto. No final da apresentação, aproveitou ainda para lançar o desafio: “ Um bom projecto faz-nos crescer como cidadãos de uma Europa que ser quer mais alargada. O programa Juventude em Acção tornou-se numa ferramenta essencial para nós. É trabalhoso, sim. Mas tudo o que dá muito trabalho, também dá muito gozo!”
Rafaela Grácio
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Evento Regional do Alentejo
Pelos caminhos de Portugal
Azinheira dos Barros, 13 de Outubro de 2008. A mescla de pronúncias que esta “volta a Portugal” nos proporciona continua. O quarto evento regional aconteceu em Azinheira dos Barros, uma pequena povoação com pouco mais de 200 habitantes, localizada no Concelho de Grândola. O Director Regional do IPJ, Carlos Cunha, esclarece a escolha: “por norma, o IPJ Direcção Regional do Alentejo faz sempre por ter iniciativas em parceria com associações locais de zonas menos centralizadas.” Foi a Associação Barrense, sita em Azinheira dos Barros que ajudou a organizar o evento que juntou 30 jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 20 anos. Visto o Alentejo ser, em termos geográficos, a maior região do país, a mobilização e deslocação de jovens participantes para esta consulta regional não foi fácil. Talvez por isso, só tenham estado presentes jovens provenientes da vila de Campo Maior, e das cidades de Portalegre e Beja.
A geração da mudança
Na sessão de abertura que, para além da presença habitual do Director da Agência Nacional e do Director Regional, contou também com a presença do Prof. Carlos Zorrinho, professor catedrático do Departamento de Gestão de Empresas da Universidade de Évora e coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico, foi notório o incentivo à participação. “Vocês são a geração da mudança”, alerta Zorrinho, justificando o chavão como uma expressão necessária. “É importante este diálogo com os jovens porque muitas vezes eles não querem aquilo que nós, mais velhos, pensamos que eles querem”, admite Pompeu Martins, Director da Agência Nacional. Carlos Cunha reforçou ainda o “conhecimento do outro” como o primeiro passo a ser dado no processo de Construção Europeia, baseado na tolerância. A importância de “pensar global” foi também marcada, pelo Professor Zorrinho, como “factor chave” para a entrada no mundo do trabalho. O mesmo aproveitou para lembrar que “Portugal apesar de ser ainda um país um bocadinho periférico em relação à Europa tem excelentes relações com o resto do mundo, e está numa posição muito central”.
A posição da juventude saiu reforçada da mesa de abertura, até porque “não faz sentido pensarmos em políticas sectoriais, pois os valores (como os da juventude e a igualdade de género) são transversais a todas as políticas”, reforçou Carlos Zorrinho antes do início da ordem de trabalhos, “o mundo maravilhoso constrói-se a partir de nós”.
Participação e Cidadania
Nesta consulta, decidi perceber de que se fala quando se fala de Participação e Cidadania, o tema de um dos grupos de trabalho da auscultação nacional. A Sónia e o Filipe, ambos da Escola Secundária de Campo Maior tentaram esclarecer-me: “ A cidadania é um tema abrangente, é a base dos nossos direitos e deveres como cidadãos. Para termos esses direitos que tanto reivindicamos devemos cumprir as nossas obrigações perante a população em geral, ” define a Sónia. Mas é exercendo a cidadania que “os jovens têm um papel fundamental”, continua. “Porque o mundo depende da nossa geração. Os jovens devem participar mais em todas as acções de campanha de sensibilização e de apoio à cultura, por exemplo. O voto também devia ser alargado em muitas das questões relacionadas com a educação, porque nós somos a educação desta geração e nós temos de fundamentar as nossas propostas. Temos de criar meios que nos obriguem a participar e a ter um papel interveniente na nossa sociedade” sugere.
Filipe vai mais além e critica o modo como os políticos tratam os jovens, “geralmente a classe política costuma ignorar a opinião dos jovens”. No entanto, assume que “são encontros como este” que lhes dão a oportunidade de mudar e sugerir alterações. E deixa a nota “ era bom que aos níveis local e regional fossem criados conselhos de juventude que englobassem associações juvenis, para que estas possam participar nas decisões políticas efectuadas.
A garantia final
Como neste ciclo de consultas regionais o que conta é a palavra deles [dos jovens], é garantido pela Agência Nacional o envio de todas as recomendações feitas ao nível regional para o nível nacional, onde serão posteriormente analisadas e discutidas entre os seleccionados a representar o país e as suas regiões. A Sónia e o Filipe estão entre esses seleccionados e marcarão presença em Portimão já no próximo mês de Novembro.
Apesar do baixo número de participantes que o evento do Alentejo conseguiu reunir, ao encerrar o dia de trabalhos, Carlos Cunha termina com uma certeza “o Alentejo vai mudar muito nos próximos 10 anos e eu acredito que os jovens da região estão à altura do desafio.”
Rafaela Grácio
Azinheira dos Barros, 13 de Outubro de 2008. A mescla de pronúncias que esta “volta a Portugal” nos proporciona continua. O quarto evento regional aconteceu em Azinheira dos Barros, uma pequena povoação com pouco mais de 200 habitantes, localizada no Concelho de Grândola. O Director Regional do IPJ, Carlos Cunha, esclarece a escolha: “por norma, o IPJ Direcção Regional do Alentejo faz sempre por ter iniciativas em parceria com associações locais de zonas menos centralizadas.” Foi a Associação Barrense, sita em Azinheira dos Barros que ajudou a organizar o evento que juntou 30 jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 20 anos. Visto o Alentejo ser, em termos geográficos, a maior região do país, a mobilização e deslocação de jovens participantes para esta consulta regional não foi fácil. Talvez por isso, só tenham estado presentes jovens provenientes da vila de Campo Maior, e das cidades de Portalegre e Beja.
A geração da mudança
Na sessão de abertura que, para além da presença habitual do Director da Agência Nacional e do Director Regional, contou também com a presença do Prof. Carlos Zorrinho, professor catedrático do Departamento de Gestão de Empresas da Universidade de Évora e coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico, foi notório o incentivo à participação. “Vocês são a geração da mudança”, alerta Zorrinho, justificando o chavão como uma expressão necessária. “É importante este diálogo com os jovens porque muitas vezes eles não querem aquilo que nós, mais velhos, pensamos que eles querem”, admite Pompeu Martins, Director da Agência Nacional. Carlos Cunha reforçou ainda o “conhecimento do outro” como o primeiro passo a ser dado no processo de Construção Europeia, baseado na tolerância. A importância de “pensar global” foi também marcada, pelo Professor Zorrinho, como “factor chave” para a entrada no mundo do trabalho. O mesmo aproveitou para lembrar que “Portugal apesar de ser ainda um país um bocadinho periférico em relação à Europa tem excelentes relações com o resto do mundo, e está numa posição muito central”.
A posição da juventude saiu reforçada da mesa de abertura, até porque “não faz sentido pensarmos em políticas sectoriais, pois os valores (como os da juventude e a igualdade de género) são transversais a todas as políticas”, reforçou Carlos Zorrinho antes do início da ordem de trabalhos, “o mundo maravilhoso constrói-se a partir de nós”.
Participação e Cidadania
Nesta consulta, decidi perceber de que se fala quando se fala de Participação e Cidadania, o tema de um dos grupos de trabalho da auscultação nacional. A Sónia e o Filipe, ambos da Escola Secundária de Campo Maior tentaram esclarecer-me: “ A cidadania é um tema abrangente, é a base dos nossos direitos e deveres como cidadãos. Para termos esses direitos que tanto reivindicamos devemos cumprir as nossas obrigações perante a população em geral, ” define a Sónia. Mas é exercendo a cidadania que “os jovens têm um papel fundamental”, continua. “Porque o mundo depende da nossa geração. Os jovens devem participar mais em todas as acções de campanha de sensibilização e de apoio à cultura, por exemplo. O voto também devia ser alargado em muitas das questões relacionadas com a educação, porque nós somos a educação desta geração e nós temos de fundamentar as nossas propostas. Temos de criar meios que nos obriguem a participar e a ter um papel interveniente na nossa sociedade” sugere.
Filipe vai mais além e critica o modo como os políticos tratam os jovens, “geralmente a classe política costuma ignorar a opinião dos jovens”. No entanto, assume que “são encontros como este” que lhes dão a oportunidade de mudar e sugerir alterações. E deixa a nota “ era bom que aos níveis local e regional fossem criados conselhos de juventude que englobassem associações juvenis, para que estas possam participar nas decisões políticas efectuadas.
A garantia final
Como neste ciclo de consultas regionais o que conta é a palavra deles [dos jovens], é garantido pela Agência Nacional o envio de todas as recomendações feitas ao nível regional para o nível nacional, onde serão posteriormente analisadas e discutidas entre os seleccionados a representar o país e as suas regiões. A Sónia e o Filipe estão entre esses seleccionados e marcarão presença em Portimão já no próximo mês de Novembro.
Apesar do baixo número de participantes que o evento do Alentejo conseguiu reunir, ao encerrar o dia de trabalhos, Carlos Cunha termina com uma certeza “o Alentejo vai mudar muito nos próximos 10 anos e eu acredito que os jovens da região estão à altura do desafio.”
Rafaela Grácio
terça-feira, 21 de outubro de 2008
Evento Regional da Madeira
As Expectativas
Funchal, 11 de Outubro de 2008. De Faro para o Funchal a “maratona” continua e tudo parece a postos para o evento regional da ilha da Madeira. Foram cerca de 55 jovens vindos de 5 dos 11 municípios da região autónoma a marcar presença nas instalações da escola da APEL.
Ainda a escola não tinha aberto e já dois participantes, o Roberto e a Marina, se afilavam timidamente à entrada. São ambos estudantes na Universidade da Madeira e membros da Associação de Escuteiros de Portugal (AEP). Estão presentes, graças a oportunidade que a chefia regional da AEP lhes proporcionou.
Dos temas a debate a Diversidade e Igualdade de Oportunidades; o Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e a Cultura, Criatividade e Inovação estão entre os preferidos, mas quando fizeram a inscrição para participar no evento, o difícil foi escolher entre os 8 grupos de trabalho propostos: “todos são muito interessantes”, confessa Roberto.
Numa breve conversa que tivemos antes da sessão de abertura falaram-me das expectativas. Os dois vêem no evento uma “boa oportunidade para alargar horizontes e novos leques de informação.” Será que a vontade se cumpre?
Incentivo, debate, discussão
Na sessão plenária de abertura, Pompeu Martins, Director da Agência Nacional para a Execução do Programa Juventude em Acção (AN) justifica o rol de eventos regionais: “a Comissão Europeia entendeu que deveria perguntar aos jovens sobre o que eles pretendem que sejam as políticas da juventude para os próximos 10 anos. Nós, em Portugal, quisemos ir para além dos números do Eurobarómetro, quisemos estar com os jovens e perceber quais as características de cada região.”
A representar o Governo Regional da Madeira, Brazão de Castro, Secretário Regional dos Recursos Humanos relembrou aos presentes que “ a Madeira e os seus cidadãos estão solidários com a construção Europeia. Os jovens querem e devem ter um papel activo na sociedade. É preocupação do Governo Regional consultar os jovens e incentivá-los ao debate e à discussão de temas da juventude.” Um discurso breve que terminou com um apelo directo: “Espero que no final deste encontro estejamos todos mais habilitados!”
O primeiro feedback
À saída do grupo Cultura, Criatividade e Inovação encontro a Marina. Neste grupo trabalharam sobre temáticas mais direccionadas como a Educação para a Cultura; a Inovação e Tecnologias e o Empreendedorismo Social/Económico e Cultural. Não são temas fáceis de tratar, mas o resultado é satisfatório, até porque “Criatividade, Cultura e Inovação” é o tema do próximo ano Europeu, recorda Nuno, o facilitador do grupo. Marina está satisfeita. “ Aprendi novas coisas e também dei o meu contributo. Foi muito interessante! Aprendi que podemos sempre inovar e não copiar. Sinto-me mais completa. Já tenho novas ideias para aplicar futuramente!”, relata.
Na mesma altura, o Roberto saiu do grupo da Diversidade. “Gostei muito”, confirma entusiasmado. “Aprendi, que existe muita desigualdade e injustiças no mundo, e que para melhorar podemos apoiar novas iniciativas. Temos de parar de pensar só em nós e perceber que existem outras pessoas na sociedade que também precisam de apoio e de oportunidades.”
Final do dia de trabalhos
Chegada a hora de apresentar resultados, o auditório enche-se novamente. Com os relatores de cada grupo, vem também uma palavra de força e esperança: “Venham mais iniciativas destas”, diz um. “É muito importante sabermos que temos um papel participativo na sociedade”, considera outro. De facto.
Marina, a jovem que segui durante o dia, ainda conseguiu ir mais além e encontrar no evento um desafio à sua personalidade: “ Normalmente, tenho muita dificuldade em falar para os outros em público, e nestas actividades encontro uma maneira de me desinibir ao mesmo tempo que dou o meu contributo. Foi uma grande experiência!”, confessa.
Na verdade, foi mais uma prova de que a juventude tem grandes potencialidades e deve ser auscultada sempre que possível. Jorge Carvalho, Director regional da Juventude afirma: “É muito importante para nós, agentes políticos, podermos contar com a juventude. E se a minha geração foi chamada rasca, a vossa deixa-nos à rasca”. Afinal de contas “está provado que quando se dá oportunidade aos jovens de serem auscultados os resultados são muito positivos”, termina Pompeu Martins.
Rafaela Grácio
Funchal, 11 de Outubro de 2008. De Faro para o Funchal a “maratona” continua e tudo parece a postos para o evento regional da ilha da Madeira. Foram cerca de 55 jovens vindos de 5 dos 11 municípios da região autónoma a marcar presença nas instalações da escola da APEL.
Ainda a escola não tinha aberto e já dois participantes, o Roberto e a Marina, se afilavam timidamente à entrada. São ambos estudantes na Universidade da Madeira e membros da Associação de Escuteiros de Portugal (AEP). Estão presentes, graças a oportunidade que a chefia regional da AEP lhes proporcionou.
Dos temas a debate a Diversidade e Igualdade de Oportunidades; o Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e a Cultura, Criatividade e Inovação estão entre os preferidos, mas quando fizeram a inscrição para participar no evento, o difícil foi escolher entre os 8 grupos de trabalho propostos: “todos são muito interessantes”, confessa Roberto.
Numa breve conversa que tivemos antes da sessão de abertura falaram-me das expectativas. Os dois vêem no evento uma “boa oportunidade para alargar horizontes e novos leques de informação.” Será que a vontade se cumpre?
Incentivo, debate, discussão
Na sessão plenária de abertura, Pompeu Martins, Director da Agência Nacional para a Execução do Programa Juventude em Acção (AN) justifica o rol de eventos regionais: “a Comissão Europeia entendeu que deveria perguntar aos jovens sobre o que eles pretendem que sejam as políticas da juventude para os próximos 10 anos. Nós, em Portugal, quisemos ir para além dos números do Eurobarómetro, quisemos estar com os jovens e perceber quais as características de cada região.”
A representar o Governo Regional da Madeira, Brazão de Castro, Secretário Regional dos Recursos Humanos relembrou aos presentes que “ a Madeira e os seus cidadãos estão solidários com a construção Europeia. Os jovens querem e devem ter um papel activo na sociedade. É preocupação do Governo Regional consultar os jovens e incentivá-los ao debate e à discussão de temas da juventude.” Um discurso breve que terminou com um apelo directo: “Espero que no final deste encontro estejamos todos mais habilitados!”
O primeiro feedback
À saída do grupo Cultura, Criatividade e Inovação encontro a Marina. Neste grupo trabalharam sobre temáticas mais direccionadas como a Educação para a Cultura; a Inovação e Tecnologias e o Empreendedorismo Social/Económico e Cultural. Não são temas fáceis de tratar, mas o resultado é satisfatório, até porque “Criatividade, Cultura e Inovação” é o tema do próximo ano Europeu, recorda Nuno, o facilitador do grupo. Marina está satisfeita. “ Aprendi novas coisas e também dei o meu contributo. Foi muito interessante! Aprendi que podemos sempre inovar e não copiar. Sinto-me mais completa. Já tenho novas ideias para aplicar futuramente!”, relata.
Na mesma altura, o Roberto saiu do grupo da Diversidade. “Gostei muito”, confirma entusiasmado. “Aprendi, que existe muita desigualdade e injustiças no mundo, e que para melhorar podemos apoiar novas iniciativas. Temos de parar de pensar só em nós e perceber que existem outras pessoas na sociedade que também precisam de apoio e de oportunidades.”
Final do dia de trabalhos
Chegada a hora de apresentar resultados, o auditório enche-se novamente. Com os relatores de cada grupo, vem também uma palavra de força e esperança: “Venham mais iniciativas destas”, diz um. “É muito importante sabermos que temos um papel participativo na sociedade”, considera outro. De facto.
Marina, a jovem que segui durante o dia, ainda conseguiu ir mais além e encontrar no evento um desafio à sua personalidade: “ Normalmente, tenho muita dificuldade em falar para os outros em público, e nestas actividades encontro uma maneira de me desinibir ao mesmo tempo que dou o meu contributo. Foi uma grande experiência!”, confessa.
Na verdade, foi mais uma prova de que a juventude tem grandes potencialidades e deve ser auscultada sempre que possível. Jorge Carvalho, Director regional da Juventude afirma: “É muito importante para nós, agentes políticos, podermos contar com a juventude. E se a minha geração foi chamada rasca, a vossa deixa-nos à rasca”. Afinal de contas “está provado que quando se dá oportunidade aos jovens de serem auscultados os resultados são muito positivos”, termina Pompeu Martins.
Rafaela Grácio
segunda-feira, 20 de outubro de 2008
Evento de Faro
O Sábio e o Pássaro
Num determinado reino vivia um sábio. Ele era o mais sábio dos sábios e nenhuma questão que lhe fosse levada ficava sem solução. Ele sabia tudo.
Existia nesse reino um jovem plebeu que não se conformava com isso. Ele não aceitava o facto de o sábio conseguir decifrar qualquer enigma, fosse ele qual fosse. Durante muito tempo o jovem arquitectou uma forma de dar a volta ao sábio.
- " Tem que existir uma forma de enganar o sábio. Ninguém sabe tudo de tudo "... Pensava ele.
Até que um dia ele descobriu uma forma, a qual nem mesmo o mais sábio dos sábios teria saída.
- "Colocarei nas minhas mãos, levemente fechadas, um pequeno pássaro vivo e perguntarei ao sábio se o pássaro está vivo ou morto. Se ele responder que está morto, eu abrirei as mãos e libertarei o pássaro para que ele voe. Se ele responder que está vivo, eu vou apertar o pássaro com os dedos até o matar. O sábio não terá saída.
Assim fez.
Diante do sábio ele procedeu como acima exposto, perguntando se o pássaro estava vivo ou morto.
O sábio olhou bem nos olhos do jovem e respondeu:
- " Meu bom jovem, a vida deste pássaro está nas tuas mãos ".
Faro, 10 de Outubro de 2008. Pouco mais de um dia passado depois do primeiro encontro em Castelo Branco, rumámos ao Algarve para o segundo evento regional. Na iniciativa a sul estiveram “cerca de 60 jovens vindos dos 16 municípios algarvios, com uma média de idades que ronda os 17 anos”, esclareceu a directora da delegação regional do IPJ, Sara Gomes Brito. São jovens, na sua maioria, provenientes de escolas profissionais, associações, universidades e institutos, e estão mais do que preparados para dar o seu contributo.
De entre os 8 grupos de trabalho, desta vez resolvi seguir o de Educação Formal e Educação Não Formal. Para muitos dos presentes qualquer uma das 8 temáticas propostas é assunto novo e este da Educação Formal e Não Formal não foge à regra. Mas afinal, de que falamos quando falamos destes dois tipos de educação?
“A Educação Formal refere-se ao sistema educativo estruturado que se inicia na escola primária até ao ensino superior. A Educação Não-formal remete para qualquer programa planeado de educação pessoal e social para jovens. (…) Tem carácter voluntário; é acessível a todos (o mais possível) e encontra-se baseada não só numa aprendizagem individual como também em grupo.” (Fonte: http://www.am.unisal.br/pos/stricto-educacao/pdf/educacao_processo_desenvolvimento.pdf).
Depois de um quebra-gelo inicial para que todos se conheçam um pouco melhor, vem a já conhecida “chuva de ideias”. Pretende-se agora que todos pensem e escrevam nos posters afixados aquilo que entendem sobre o Ensino Obrigatório; o Processo de Bolonha e sobre o Potencial e Reconhecimento da Educação Não Formal (ENF). O arranque não é fácil. “Está tudo ainda a morrer de timidez”, refere a participante Susana Cotovia. É normal. Muitos estreiam-se agora em auscultações do género e até mesmo as dinâmicas e os métodos usados são algo de novo e que, à partida, intimidam. Não podemos esquecer que “este apelo à participação activa dos jovens em geral, sobre as políticas da juventude, é a primeira vez que se cumpre à escala europeia”, recorda a Directora-Adjunta da Agência Nacional do Programa Juventude em Acção, Maria Manuel Silva.
O grupo divide-se entretanto nos 3 grupos distintos sob os temas mencionados acima. À volta do tema Potencial e Reconhecimento da ENF sentam-se o Adriano Chaveiro, a Edite Jesus, a Susana Cotovia, a Sandra Galego e a Patrícia Francisco. Um grupo diverso mas com ideias muito semelhantes no referente ao tópico em debate. “Nós somos muito comodistas”, desabafa Sandra “e neste país o que conta é os diplomas, não se dá importância à ENF”. Ao que parece, a inércia define muitos portugueses. “As pessoas reclamam mas ninguém vai ao sítio certo à procura de informação”, denuncia Patrícia. E o grupo continua entregue ao debate. A decisão para a elaboração das recomendações (a escrever na folha dada pelo facilitador) não é fácil. A 5 minutos do tempo terminar, o grupo que acompanhei começa a escrever. Foram muitas as ideias e as conversas são mesmo como as cerejas: vêm sempre umas atrás das outras!
No final, Bruno António, o facilitador do grupo, pede uma palavra sobre as últimas horas passadas em conjunto. Susana termina com 3: “devia haver mais”.
A auscultação da região do Algarve finda com agradecimentos e notas de esperança. Sara Gomes Brito classifica o dia como “um dia magnífico de trabalho em que foi dada voz à juventude” e manifesta sem quaisquer rodeios o orgulho que tem em ser Directora Regional do IPJ e em ser anfitriã do evento nacional da semana da juventude, em Portimão, entre os dias 7 e 9 de Novembro. A poucos minutos de encerrar, a Directora Regional, fez ainda questão de contar a história do sábio e do pássaro, aproveitando o desfecho para lembrar aos presentes que “o futuro está nas vossas mãos!”
Rafaela Grácio
Num determinado reino vivia um sábio. Ele era o mais sábio dos sábios e nenhuma questão que lhe fosse levada ficava sem solução. Ele sabia tudo.
Existia nesse reino um jovem plebeu que não se conformava com isso. Ele não aceitava o facto de o sábio conseguir decifrar qualquer enigma, fosse ele qual fosse. Durante muito tempo o jovem arquitectou uma forma de dar a volta ao sábio.
- " Tem que existir uma forma de enganar o sábio. Ninguém sabe tudo de tudo "... Pensava ele.
Até que um dia ele descobriu uma forma, a qual nem mesmo o mais sábio dos sábios teria saída.
- "Colocarei nas minhas mãos, levemente fechadas, um pequeno pássaro vivo e perguntarei ao sábio se o pássaro está vivo ou morto. Se ele responder que está morto, eu abrirei as mãos e libertarei o pássaro para que ele voe. Se ele responder que está vivo, eu vou apertar o pássaro com os dedos até o matar. O sábio não terá saída.
Assim fez.
Diante do sábio ele procedeu como acima exposto, perguntando se o pássaro estava vivo ou morto.
O sábio olhou bem nos olhos do jovem e respondeu:
- " Meu bom jovem, a vida deste pássaro está nas tuas mãos ".
Faro, 10 de Outubro de 2008. Pouco mais de um dia passado depois do primeiro encontro em Castelo Branco, rumámos ao Algarve para o segundo evento regional. Na iniciativa a sul estiveram “cerca de 60 jovens vindos dos 16 municípios algarvios, com uma média de idades que ronda os 17 anos”, esclareceu a directora da delegação regional do IPJ, Sara Gomes Brito. São jovens, na sua maioria, provenientes de escolas profissionais, associações, universidades e institutos, e estão mais do que preparados para dar o seu contributo.
De entre os 8 grupos de trabalho, desta vez resolvi seguir o de Educação Formal e Educação Não Formal. Para muitos dos presentes qualquer uma das 8 temáticas propostas é assunto novo e este da Educação Formal e Não Formal não foge à regra. Mas afinal, de que falamos quando falamos destes dois tipos de educação?
“A Educação Formal refere-se ao sistema educativo estruturado que se inicia na escola primária até ao ensino superior. A Educação Não-formal remete para qualquer programa planeado de educação pessoal e social para jovens. (…) Tem carácter voluntário; é acessível a todos (o mais possível) e encontra-se baseada não só numa aprendizagem individual como também em grupo.” (Fonte: http://www.am.unisal.br/pos/stricto-educacao/pdf/educacao_processo_desenvolvimento.pdf).
Depois de um quebra-gelo inicial para que todos se conheçam um pouco melhor, vem a já conhecida “chuva de ideias”. Pretende-se agora que todos pensem e escrevam nos posters afixados aquilo que entendem sobre o Ensino Obrigatório; o Processo de Bolonha e sobre o Potencial e Reconhecimento da Educação Não Formal (ENF). O arranque não é fácil. “Está tudo ainda a morrer de timidez”, refere a participante Susana Cotovia. É normal. Muitos estreiam-se agora em auscultações do género e até mesmo as dinâmicas e os métodos usados são algo de novo e que, à partida, intimidam. Não podemos esquecer que “este apelo à participação activa dos jovens em geral, sobre as políticas da juventude, é a primeira vez que se cumpre à escala europeia”, recorda a Directora-Adjunta da Agência Nacional do Programa Juventude em Acção, Maria Manuel Silva.
O grupo divide-se entretanto nos 3 grupos distintos sob os temas mencionados acima. À volta do tema Potencial e Reconhecimento da ENF sentam-se o Adriano Chaveiro, a Edite Jesus, a Susana Cotovia, a Sandra Galego e a Patrícia Francisco. Um grupo diverso mas com ideias muito semelhantes no referente ao tópico em debate. “Nós somos muito comodistas”, desabafa Sandra “e neste país o que conta é os diplomas, não se dá importância à ENF”. Ao que parece, a inércia define muitos portugueses. “As pessoas reclamam mas ninguém vai ao sítio certo à procura de informação”, denuncia Patrícia. E o grupo continua entregue ao debate. A decisão para a elaboração das recomendações (a escrever na folha dada pelo facilitador) não é fácil. A 5 minutos do tempo terminar, o grupo que acompanhei começa a escrever. Foram muitas as ideias e as conversas são mesmo como as cerejas: vêm sempre umas atrás das outras!
No final, Bruno António, o facilitador do grupo, pede uma palavra sobre as últimas horas passadas em conjunto. Susana termina com 3: “devia haver mais”.
A auscultação da região do Algarve finda com agradecimentos e notas de esperança. Sara Gomes Brito classifica o dia como “um dia magnífico de trabalho em que foi dada voz à juventude” e manifesta sem quaisquer rodeios o orgulho que tem em ser Directora Regional do IPJ e em ser anfitriã do evento nacional da semana da juventude, em Portimão, entre os dias 7 e 9 de Novembro. A poucos minutos de encerrar, a Directora Regional, fez ainda questão de contar a história do sábio e do pássaro, aproveitando o desfecho para lembrar aos presentes que “o futuro está nas vossas mãos!”
Rafaela Grácio
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Evento da Região Centro
Partida, largada, fugida!
Castelo Branco, 8 de Outubro de 2008. Foi no auditório das instalações do Instituto Português da Juventude (IPJ) de Castelo Branco que se deu início à “maratona” dos eventos regionais da juventude. Foram cerca de 150 jovens, vindos dos 6 distritos da região centro para a primeira das 7 auscultações feitas a nível nacional sobre as políticas da juventude.
O Director Regional do IPJ, Miguel Nascimento, não podia estar mais satisfeito. “É um orgulho muito grande o facto de a Agência Nacional ter escolhido Castelo Branco para ser a pedra de lançamento para a celebração da Semana Europeia da Juventude a nível nacional”, refere. Sendo uma região grande e extremamente diversificada no que toca a conselhos, freguesias e associações juvenis, o trabalho do IPJ e da Direcção Regional em parceria e sintonia com a Agência Nacional mostra resultados. “Temo-nos pautado por fazer o nosso melhor. As pessoas que trabalham comigo, bem como toda a equipa, são peças chave nesta actividade. Se não fosse o trabalho empenhado e dedicado dos funcionários do IPJ e de todos os envolvidos no programa Juventude em Acção não seria possível este trabalho alargado em toda a região”, assegura Miguel Nascimento.
Até ao próximo dia 9 de Novembro, um pouco por toda a Europa dos 27 mais 4 países (os 27 Estado-membro mais a Noruega, Islândia, Liechtenstein e Turquia) vai celebrar-se a Semana Europeia da Juventude. Concertos, actividades, auscultações e seminários são algumas das modalidades eleitas pelos estados como forma de promoção e incentivo à participação juvenil. O objectivo? Elaborar recomendações concretas ao nível nacional para serem a posteriori debatidas a nível europeu de modo a figurar num plano de políticas da juventude para a próxima década. Imaginam a responsabilidade?
Os grupos de trabalho
Uma equipa de 4 facilitadores da bolsa de formadores do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) está garantida a cada evento regional para tornar tudo mais fácil. Em 8 grupos de trabalho divididos ao longo do dia (4 de manhã e 4 à tarde), os participantes são envolvidos numa dinâmica de educação não formal de modo a produzir autonomamente ideias concretas a serem apresentadas no final do dia de trabalhos. Os temas são iguais para todas as regiões: Participação e Cidadania; Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Cooperação Global; Saúde; Diversidade e Igualdade de Oportunidades; Educação Formal e Não Formal; Emancipação Juvenil; Cultura, Criatividade e Inovação.
Para muitos, esta é a primeira vez que participam em encontros do género. Num primeiro grupo que visito, o da Diversidade e Igualdade de Oportunidades, o pouco à vontade para participar é notório. O tema é sério e exige concentração. Mas “é tudo tão vasto”, oiço de um participante. Inclusão Social; Luta contra o racismo e discriminação; actividades interculturais e igualdades de oportunidades revelam-se os pontos de partida. São precisas ideias. Na verdade, é necessário uma “chuva de ideias” para se ter conclusões diversas e reais.
Aos poucos, a palavra vai surgindo e no final, mais tempo houvesse, mais se debatia e discutia. “Acho que isto é exemplo da democracia no seu melhor”, diz a participante Helena Pinho, 28 anos, psicóloga. “Os temas são muito interessantes bem como a metodologia. A mais-valia deste método menos formal de trabalho é que toda a gente participa. Só era preciso mais tempo. Todos acabam por dar um bocadinho de si e as conclusões ficam muito mais ricas”, continua.
Cada grupo de trabalho tem um relator. O relator é o responsável pela redacção do texto final a apresentar em auditório aquando da sessão de encerramento da consulta regional. Neste grupo que sigo não é fácil conseguir um voluntário. Olhares e sorrisos cruzam-se a medo na sala de trabalho. “Eu não, eu não” sussurram uns. A meio da sala, uma mão no ar: Diogo, o corajoso. “Temos relator. Uma salva de palmas”, anuncia Andreia Henriques, a facilitadora do grupo. À saída da sala, encontro o Diogo. Acabava de redigir o documento final do seu grupo. O Diogo tem 18 anos, vem de Vila Velha, e é aluno da Escola Secundária Mato Lusitano. Para ele, tudo isto é novo: os temas, a dinâmica, a responsabilidade. Diz-me que ao escolher este workshop espera ficar a saber “mais alguma coisa”. Para ele o tema racismo é um dos mais importantes. “Pelo número de emigrantes e imigrantes que Portugal tem, devia haver menos racismo. Começando logo desde cedo por juntar jovens de várias etnias e países para que não haja conflitos no futuro”, justifica.
A importância de ouvir
Ao falarmos de auscultação, estamos a pedir e a definir um espaço livre de debate e pensamento sobre temáticas relevantes para um investimento futuro que se pretende eficaz. Não é fácil, mas também ninguém diz que é impossível. Ao celebrar 20 anos de políticas e programas da juventude, a Comissão Europeia dá agora um passo importante no processo consultivo aos jovens. Querem ouvi-los e torná-los co-responsáveis pelas decisões tomadas ao nível da juventude na década que aí se avizinha. A determinação e o empenho com que a Agência Nacional está a levar esta missão são, por isso, consequentes. “É importante ouvir, falar e discutir porque cada vez se comunica menos”, diz-me o engenheiro Rui Moreira, presente em representação do Centro de Informação Europeia Europe Direct e da direcção regional da Agricultura e das Pescas do Centro. “É importante que eles façam parte da construção da sociedade a que eles vão pertencer. Que discutam a sociedade que eles vão viver. Porque, como dizem alguns pensadores: a discutir é que nasce a luz.”
Rafaela Grácio
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