Os jovens, Portugal e a Europa
Porto, 15 de Outubro de 2008. Depois de uma volta quase completa pelo país, as políticas da juventude e a sua aplicação futura no contexto europeu continuam a estar no centro de debates. Na verdade, “muito mudou em Portugal desde a sua entrada na União Europeia”, refere Miguel Lemos, representante do Governo Civil do Porto. “Não podemos separar Portugal do contexto europeu”, continua.
Luís Alves, presidente da Federação Nacional das Associações Juvenis (FNAJ) confirma com o exemplo: “Hoje não é possível falar de Educação Formal sem ter em conta o processo de Bolonha, da mesma forma que não é possível falar de Educação Não Formal sem referir a actualidade no âmbito europeu”.
Os “dados estão lançados” e não se pode escapar de uma realidade cada vez mais global que, ao mesmo tempo, se mostra mais exigente. O presidente da FNAJ não tem dúvidas: “esta é a geração mais qualificada de sempre”, afirma. Daí o papel importantíssimo dos jovens em assumir a responsabilidade de mudança quanto mais não seja pelo seu “inconformismo e irreverência”, recorda Miguel Lemos, “eles têm as ferramentas necessárias para levar o projecto europeu a bom porto”.
Da escala europeia para a global
Hoje em dia, é cada vez mais difícil não se pensar “global”. Com o acesso à informação cada vez mais disseminado, as novas tecnologias e a facilidade de comunicação entre os quatro cantos do mundo, torna-se quase impossível não saber, ou não ter conhecimento sobre o que se passa além fronteiras. Mas estarão os jovens preparados para falar de Cooperação Global e elaborar recomendações respeitantes a temáticas tão complexas como as políticas de vizinhança e alargamento; os objectivos de desenvolvimento do Milénio; as relações UE-América Latina e as relações UE-África? Desta feita, foi o que fui tentar saber.
Eduardo, um participante no grupo da Cooperação Global, acha que não: “há aqui muitos conceitos dos quais nunca ouvi falar”. Eduardo refere-se, por exemplo, aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs). Num grupo de 10 pessoas apenas uma, a Mariana, já tinha ouvido falar dos 8 ODMs. Será um reflexo da sabedoria nacional referente ao tema? Andreia Henriques, a facilitadora do grupo, responde: “cerca de 85% da população portuguesa nunca ouviu falar dos Objectivos do Milénio.” (www.objectivo2015.org)
Depois de esclarecidos sobre os objectivos do milénio e sobre os objectivos do grupo de trabalho, e depois de lançadas as primeiras ideias numa dinâmica intitulada silent floor (em que cada pessoa escreve aquilo que acha mais importante ser discutido) os participantes seleccionaram as temáticas a debater. As relações UE-América Latina ficaram de fora. Ninguém consegue ao certo explicar porquê. “É interessante, mas…”, dizem.
De entre os temas propostos: Objectivos do Milénio; relações UE-África e Políticas de Vizinhança e Alargamento, Jorge, Eduardo e Leny escolheram o último. Mas parece não ser fácil. Olham-se em jeito cúmplice de quem sabe que tem muito para discutir mas não sabe por onde começar. “É difícil chegar a recomendações concretas e estamos a correr contra o tempo”, confessa Eduardo.
Findo tempo de elaboração das recomendações de cada subgrupo, o debate abre-se a todos os participantes. Este é o momento de se falar das recomendações feitas por todos, de forma aberta, de modo a esclarecer eventuais dúvidas e alterar, se necessário, as propostas apresentadas. A Mariana não está satisfeita. “Não vi debatida a questão financeira e era extremamente importante dada a crise que estamos a atravessar a nível global”, lamenta. “E a questão da entrada da Turquia na UE era também fundamental e ninguém quis falar disso”, reforça. Mas como já o Eduardo tinha dito, aqui corre-se contra o tempo e “não se pode estar agora a fazer alterações dessa dimensão porque temos de terminar. Foi-vos dada a oportunidade para inserirem os temas que quisessem”, esclarece a facilitadora.
Os métodos de consulta
Ao longo de todo o processo de auscultação directa aos jovens, os métodos utilizados baseiam-se na Educação Não Formal (ENF). Este tipo de metodologia prevê a participação voluntária de cada pessoa envolvida, e assenta no princípio fundamental do consenso do grupo na tomada de decisões. A importância de trabalhar em grupo é aqui vista como um factor chave no desenvolvimento de aspectos referentes ao relacionamento interpessoal, nomeadamente: a tolerância, a escuta activa, o respeito pelo outro e a aceitação de um método altamente democrático em que todos decidem em conjunto o que tratar, como e porquê. É por isso normal, que nem todos os temas sugeridos pelos intervenientes sejam aprofundados, em prol de outros que o grupo (como um todo) achou de maior conveniência trabalhar.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
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