sexta-feira, 7 de novembro de 2008

“Uma aposta ganha!”

Entrevista Dr. Pompeu Martins

No final da “corrida” pelas 7 regiões de Portugal a auscultar os jovens sobre as políticas europeias da juventude, é tempo de reflexão e balanço. A poucos dias do encontro nacional - do qual resultará um documento oficial de recomendações a serem enviadas à Comissão Europeia - Pompeu Martins, director da Agência Nacional para o Programa Juventude em Acção, fala-nos das expectativas superadas, da importância da participação política, das juventudes portuguesas e dos planos futuros.

Rafaela Grácio – Qual o balanço, após a conclusão dos eventos regionais?

Pompeu Martins – Acho que é uma aposta ganha porque os jovens, para além de terem escutado decisores políticos e investigadores de diferentes áreas, construíram um documento novo. Este contributo já é efectivo, pois este processo não volta atrás. É algo que vai fazer algum efeito naquelas que devem ser as decisões para a política europeia.

RG – Durante este processo de auscultação regional, houve algumas surpresas?

PM – Surpreendeu-nos o facto de existirem propostas de jovens para as quais já existia uma resposta dos diferentes sectores, e surpreendeu-nos o facto de eles ainda não sentirem de uma forma tão substantiva essas mesmas propostas. Isto é desde logo um indicador para que quem está nos diversos postos faça um reforço da comunicação dessas mesmas propostas já existentes.
Acabou por nos surpreender, também, a criatividade por um lado, a objectividade por outro e a manutenção do espírito da utopia. Acho importante, mais do que nunca, o facto de termos encontrado para cima de 500 jovens que se juntaram em todo o país, a construir um documento, e também, ao mesmo tempo, termos encontrado cerca de 500 jovens a construir as suas utopias, o que acaba por ser a voz do seu tempo, e a marca da sua geração. E é isso que se exige a todas as gerações, e que está a ser exigido a esta também. É esse processo de construção daquilo que eles pretendem, seja para realizar já, seja para realizar a médio prazo.

RG - Há alguma perspectiva da Agência Nacional de repetir este tipo de auscultações?

PM - A Agência Nacional (AN) teve uma apreciação muito positiva deste modelo de auscultação da juventude. Já no inicio do próximo ano, estamos a planear executar melhor as politicas da juventude em matéria de inclusão social. Neste sentido, já esta programada uma volta pelo país para, junto dos interlocutores que têm desenvolvido (no âmbito do programa Juventude em Acção) projectos que se direccionem para a inclusão social, percebermos quais são os pontos fortes, os pontos fracos, as ameaças e as oportunidades que o programa lhes conferiu enquanto co-organizadores do projecto. Por outro lado, queremos perceber ao nível da inclusão em concreto quais foram as dificuldades de trajecto e em que é que este programa se transformou enquanto ferramenta de inclusão social. E como este modelo resultou [modelo de auscultação da Semana Europeia da Juventude], nós vamos fazer um percurso muito idêntico, sempre numa linha claramente politica de agir dentro da AN, sendo sustentados naquilo que é o pensamento e a acção dos diferentes interlocutores que estão no terreno. Não vemos isto como uma gestão isolada dentro das directivas que nos chegam da Comissão Europeia, queremos sim, com o apoio da própria Comissão estar sempre juntos daqueles que tenham conhecimento efectivo no terreno, os quais muitas vezes nós não conhecemos e que só ouvindo é que conseguimos decidir melhor sobre como fazer investimento publico em matéria de politicas da juventude.

RG - Ao longo destes encontros regionais foi recorrente ouvi-lo dizer que “a política não se esgota nos partidos.” Acha que é importante desmistificar isto?

PM - É importante quebrar dois tabus. O primeiro é que não há mal nenhum em participar na vida política através dos partidos políticos e das organização políticas, independentemente de essa participação ser feita como militante activo do partido, ser ocupando cargos de nomeação ou de eleição partidária. Hoje em dia, vive-se um pouco de preconceitos, e os preconceitos, à partida, são todos maus porque não se sustentam em realidades confirmadas. Por outro lado, é também importante dizer que a participação, quando falamos em políticas, não se esgota nos partidos políticos, mas sim na participação na vida das comunidades. Quando um grupo de cidadãos vem aqui dar uma opinião e dizer o que pretende das políticas está a participar activamente na política. E está a participar de forma construtiva e de forma livre e atento aos seus direitos e, portanto, sob processo de cidadania. Acho que esta Semana Europeia da Juventude está a quebrar estes dois tabus. Quando estamos a discutir politica estamos a garantir os nossos direitos, a reforçar os nossos deveres, estamos a ser cidadãos melhores e isto faz-se dentro dos partidos políticos e em fóruns desta natureza.

RG – Como define a(s) juventude(s) portuguesas numa frase, ou numa ideia?

PM – Acho que as juventudes portuguesas estão como devem estar. Como o seu tempo as manda estar. Com tudo de bom e tudo de mau que as gerações sempre têm e sempre tiveram. Agora, esta é sem dúvida a geração mais bem preparada de sempre. Felizmente, os níveis de escolaridade desta geração são os maiores de sempre, o que faz com que o desafio sobre o ponto de vista civilizacional seja também maior. E aí, encontramos um mundo em completa transformação, em que a própria noção de tempo e de espaço é completamente diferente daquilo que era há 10 anos atrás. Esta nova geração tem esse grande desafio pela frente, pois para além de ser a mais bem preparada, é aquela que está a “apanhar” com as mudanças mais rápido e isso não é fácil. Mas também penso que o reverso da medalha é olharmos e vermos gente capaz e gente que apenas está a dar sinais de que quer alguma coisa, mas que quer alguma coisa de forma diferente, e isso tem a ver com o seu tempo. A nossa grande expectativa é que possamos todos perceber e criar as pontes necessárias porque a juventude não se fecha em si própria. Esta geração o que terá para dizer, terá para dizer aos mais pequenos, porque os vai criar, e terá par dizer aos adultos com quem conviverá durante muito tempo. E é desta forma, feita destes pactos colectivos, pactos com a comunidade, que eu acredito que conseguimos melhorar a nossa prestação enquanto cidadãos e termos, efectivamente, sociedades mais sustentáveis, mais equilibradas e mais desenvolvidas.

Inclusão social

À conversa com Maria Manuel Silva, Directora-adjunta da Agência Nacional

A inclusão social tem sido uma temática prioritária nas actividades levadas a cabo pela Agência Nacional do Programa Juventude em Acção. Nas 7 auscultações regionais feitas no âmbito da Semana Europeia da Juventude fez-se questão na participação de jovens que enfrentam diariamente dificuldades de integração, seja por serem de classes menos favorecidas, por serem jovens portadores de deficiência ou jovens imigrantes, entre outros. O objectivo é conseguir uma representação da juventude portuguesa o mais justa e inclusiva possível. À conversa com Maria Manuel, ficámos a saber mais sobre os próximos planos da Agência Nacional (AN) relativamente à inclusão.
Desde meados de 2007 (ano em que se estabeleceu) que a AN tem-se pautado por fazer mais e melhor no que respeita à gestão das políticas e programas da juventude. Ouvir o que os jovens têm para dizer é uma condição sine qua non para que todos os projectos levados a cabo pela AN tenham resultados satisfatórios.
A Estratégia Nacional para a Inclusão do Programa Juventude em Acção tem como objectivo principal fazer uma série de auscultações a nível nacional (nas 7 regiões definidas) das entidades que trabalham com o Programa Juventude em Acção (PJA), no sentido de as mesmas poderem transmitir que é que em termos de aplicabilidade do PJA, nomeadamente na área da inclusão social, é necessário fazer para melhorar. “No fundo, é fazer uma análise SWOT com oportunidades, ameaças, pontos fortes e pontos fracos nos projectos que nós consideramos inclusivos”, explica Maria Manuel Silva. Desta primeira etapa, que se prevê que se inicie em Dezembro de 2008 e termine em Fevereiro de 2009, farão parte apenas entidades que tenham já executado um certo número de projectos na área da inclusão.
O projecto visa igualmente uma melhor adequação do PJA às reais necessidades. “Vamos ao terreno, vamos ouvir as pessoas que trabalham para fazer com que o PJA actual seja mais eficaz também na sua intervenção. O objectivo último é a aplicabilidade do programa e sua adaptação à realidade com níveis de eficácia grandes”, reforça a directora-adjunta.

O processo de auscultação e a apresentação dos resultados

Cada um dos 7 fóruns regionais previstos terá a duração de 1 dia. Estão planeadas dinâmicas que identifiquem, de imediato, os tais pontos fortes e fracos que os projectos inclusivos têm na sua essência. Sem nunca perder o PJA de vista, Maria Manuel Silva esclarece: “o que se pretende é que neste momento seja feita uma avaliação do mesmo enquanto ferramenta de inclusão. Só depois é que se irá especificamente à área da inclusão social, para se saber o que está a ser feito, o que há para melhorar e o que se deve manter.”
Findo processo consultivo em formato de fórum, será apresentado um instrumento mais qualitativo. Será um documento que as entidades têm a possibilidade de levar com elas para preencherem e devolverem posteriormente à Agência Nacional, de modo a que se complemente a informação recolhida nos fóruns.
Após o tratamento dos dados surgirá um documento conclusivo com os resultados das várias auscultações. “A ideia é que esse documento seja depois editado”, refere Maria Manuel, “vamos criar um produto com essas conclusões que vai ser distribuído por todas as entidades que participaram e por todas as actividades e organizações que gravitam à volta e trabalham com o PJA. Depois, partimos para uma segunda fase que neste momento ainda não sabemos o que vai ser, porque isto é um processo que vai sendo construído e só no fim desta primeira fase é que nós vamos ter a real noção do que é que nós podemos fazer para melhorar e saber qual será o nosso contributo nesta estratégia nacional. Vai haver de certeza uma segunda fase que vai ser extraída dos resultados da primeira”, conclui.

Comunidades práticas juvenis

Paralelamente a todo este processo, mas ainda dentro do objectivo principal da Estratégia Nacional de Inclusão, está a criação das comunidades práticas juvenis. Pretende-se que estas comunidades funcionem como espaços de informação nos quais as entidades podem partilhar informações de um modo menos formal e mais livre. Maria Manuel dá um exemplo: “quando uma entidade que está a trabalhar num projecto inclusivo tem uma dificuldade, através destas comunidades poderá partilhar com uma outra entidade mais experiente, as suas dúvidas e até mesmo aprender com ela. Pretendemos proporcionar meios e plataformas para que haja uma troca constante de informação para um maior ajuste na intervenção na área da inclusão.”
Para estas comunidades práticas juvenis a AN pensou em 2 momentos fundamentais. Por um lado, a criação de espaços e actividades em que se convida as associações a trocar entre elas as informações e as experiências que achem relevantes partilhar. Por outro, e já num segundo momento, criar uma rede de contactos, aproveitando as mais-valias das novas tecnologias, como a internet, em que todas estas entidades estivessem ligadas e em que todas pudessem partilhar os seus objectivos, ideias, desafios e informações úteis para que estivessem todas em sintonia e no fundo convergissem para um objectivo só.

Por Rafaela Grácio

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Evento Regional dos Açores

Missão cumprida!

Ponta Delgada, 25 de Outubro de 2008. O último dos 7 eventos regionais, planeados para a celebração da Semana Europeia da Juventude de 2008 em Portugal, teve lugar na Universidade dos Açores. Jovens de várias ilhas do arquipélago fizeram questão de marcar presença na auscultação e responder ao desafio com propostas exigentes e inovadoras no que diz respeito à participação política dos jovens açorianos.

O evento serviu ainda para avaliar as necessidades do arquipélago relativamente ao Programa Juventude em Acção. Pompeu Martins, director da Agência Nacional, referiu na sessão de abertura a importância de reforçar a formação referente ao programa, de modo a aumentar os níveis de iniciativa, participação e mobilidade dos jovens açorianos. Referiu também o Serviço de Voluntariado Europeu (SVE) como uma “grande aposta da Comissão Europeia para as políticas da juventude”, no sentido de democratizar as oportunidades, uma vez que é um programa acessível a todos os jovens, “mesmo àqueles com menos oportunidades”.

Transmissão e partilha de conhecimentos

Bruno Pacheco, director regional do IPJ, avalia a iniciativa de uma auscultação no âmbito das políticas da juventude como uma forma óptima de “partilhar e transmitir conhecimentos”, e elogia o trabalho da Agência Nacional nomeadamente na sua “nova postura em relação aos Açores”, a qual classifica como “mais compreensiva”. Relativamente às políticas europeias da juventude Bruno Pacheco não tem dúvidas: “vieram reforçar aos jovens açorianos o sentimento contemporâneo de mundividência”. E dá a questão da mobilidade como exemplo quando a refere “central na construção das cidadanias europeias”

Sobre o resultado do dia de trabalho e já frente às conclusões, o director regional responde: “conseguiram em cada área de intervenção sintetizar intenções exequíveis contrariando todas as expectativas baseadas em subjectividade e rebusques”. E informa: “Podem contar com a Direcção Regional para levar as ideias em frente e multiplicar a mensagem, para que possamos chegar mais longe e chegar ao maior número de pessoas possíveis. E se detectarem uma oportunidade de trabalho ou iniciativa que multiplique oportunidades em prol da juventude, também podem contar com a Direcção Regional”.

Operacionalizar recomendações

Ao longo destes 7 eventos consultivos, um dos grandes desafios tidos pelos facilitadores era o facto de conseguirem que os participantes operacionalizassem as ideias que tinham relativamente aos temas em debate. Trocando por miúdos, o pedido era que ao produzirem recomendações, as fizessem de uma forma prática, exequível e eficaz, utilizando verbos de forma a reforçar a necessidade de acção. Promover, reforçar, motivar, desenvolver, são alguns exemplos. Anabela Moreira, facilitadora nos Açores dos grupos de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e de Educação Formal e Não formal, relembra: “ construam frases operacionais. Operacional é a palavra-chave”.

Apresentando conclusões

No final do dia de trabalhos, a satisfação não podia ser mais evidente. Um dos relatores, o Rodrigo, antes de iniciar a sua apresentação, aproveitou o momento para agradecer à mesa a oportunidade de estar presente e contribuir, à sua escala, para a próxima década de políticas europeias da juventude.
A presença de cerca de 80 jovens a um sábado, para um dia intenso de trabalhos, acabou por surpreender todo o painel da organização (Direcção Regional e Agência Nacional) no sentido de ser um “grande sinal de vontade democrática”, referiu Pompeu Martins na sessão de encerramento.

Palavras de …

Graziela, 29 anos, Casa do Povo de Vila Franca do Campo
Esta iniciativa é importante no sentido de dar voz aos jovens. Fazer com que eles saibam que têm um lugar e que alguém os está a ouvir. Por estarmos numa ilha, as dificuldades de saída e de ligação com o exterior são maiores, logo as necessidades são outras. Embora as políticas implementadas tenham ajudado em muito a ultrapassar isto, ainda há muito por fazer, porque o nosso maior problema acaba por ser mesmo a localização geográfica. Ficamos fechados em nós mesmos. Este tipo de consultas faz os nossos jovens açorianos acreditarem que estão a ser ouvidos e que têm as mesmas oportunidades em serem ouvidos que os outros. Isto é como um abrir portas e janelas para um outro mundo que muitos de nós não sabemos que existe.

Bruno Gonçalves, 24, Universidade dos Açores
Classifico o evento como excelente, pela oportunidade que dão aos jovens de opinar em relação a assuntos que lhes dizem respeito. Ainda bem que nos consultam, porque nós somos o futuro. Em relação aos temas debatidos só tenho pena de não podermos participar em mais.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Evento Regional do Porto

Os jovens, Portugal e a Europa

Porto, 15 de Outubro de 2008. Depois de uma volta quase completa pelo país, as políticas da juventude e a sua aplicação futura no contexto europeu continuam a estar no centro de debates. Na verdade, “muito mudou em Portugal desde a sua entrada na União Europeia”, refere Miguel Lemos, representante do Governo Civil do Porto. “Não podemos separar Portugal do contexto europeu”, continua.
Luís Alves, presidente da Federação Nacional das Associações Juvenis (FNAJ) confirma com o exemplo: “Hoje não é possível falar de Educação Formal sem ter em conta o processo de Bolonha, da mesma forma que não é possível falar de Educação Não Formal sem referir a actualidade no âmbito europeu”.

Os “dados estão lançados” e não se pode escapar de uma realidade cada vez mais global que, ao mesmo tempo, se mostra mais exigente. O presidente da FNAJ não tem dúvidas: “esta é a geração mais qualificada de sempre”, afirma. Daí o papel importantíssimo dos jovens em assumir a responsabilidade de mudança quanto mais não seja pelo seu “inconformismo e irreverência”, recorda Miguel Lemos, “eles têm as ferramentas necessárias para levar o projecto europeu a bom porto”.

Da escala europeia para a global

Hoje em dia, é cada vez mais difícil não se pensar “global”. Com o acesso à informação cada vez mais disseminado, as novas tecnologias e a facilidade de comunicação entre os quatro cantos do mundo, torna-se quase impossível não saber, ou não ter conhecimento sobre o que se passa além fronteiras. Mas estarão os jovens preparados para falar de Cooperação Global e elaborar recomendações respeitantes a temáticas tão complexas como as políticas de vizinhança e alargamento; os objectivos de desenvolvimento do Milénio; as relações UE-América Latina e as relações UE-África? Desta feita, foi o que fui tentar saber.

Eduardo, um participante no grupo da Cooperação Global, acha que não: “há aqui muitos conceitos dos quais nunca ouvi falar”. Eduardo refere-se, por exemplo, aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs). Num grupo de 10 pessoas apenas uma, a Mariana, já tinha ouvido falar dos 8 ODMs. Será um reflexo da sabedoria nacional referente ao tema? Andreia Henriques, a facilitadora do grupo, responde: “cerca de 85% da população portuguesa nunca ouviu falar dos Objectivos do Milénio.” (www.objectivo2015.org)

Depois de esclarecidos sobre os objectivos do milénio e sobre os objectivos do grupo de trabalho, e depois de lançadas as primeiras ideias numa dinâmica intitulada silent floor (em que cada pessoa escreve aquilo que acha mais importante ser discutido) os participantes seleccionaram as temáticas a debater. As relações UE-América Latina ficaram de fora. Ninguém consegue ao certo explicar porquê. “É interessante, mas…”, dizem.

De entre os temas propostos: Objectivos do Milénio; relações UE-África e Políticas de Vizinhança e Alargamento, Jorge, Eduardo e Leny escolheram o último. Mas parece não ser fácil. Olham-se em jeito cúmplice de quem sabe que tem muito para discutir mas não sabe por onde começar. “É difícil chegar a recomendações concretas e estamos a correr contra o tempo”, confessa Eduardo.

Findo tempo de elaboração das recomendações de cada subgrupo, o debate abre-se a todos os participantes. Este é o momento de se falar das recomendações feitas por todos, de forma aberta, de modo a esclarecer eventuais dúvidas e alterar, se necessário, as propostas apresentadas. A Mariana não está satisfeita. “Não vi debatida a questão financeira e era extremamente importante dada a crise que estamos a atravessar a nível global”, lamenta. “E a questão da entrada da Turquia na UE era também fundamental e ninguém quis falar disso”, reforça. Mas como já o Eduardo tinha dito, aqui corre-se contra o tempo e “não se pode estar agora a fazer alterações dessa dimensão porque temos de terminar. Foi-vos dada a oportunidade para inserirem os temas que quisessem”, esclarece a facilitadora.


Os métodos de consulta

Ao longo de todo o processo de auscultação directa aos jovens, os métodos utilizados baseiam-se na Educação Não Formal (ENF). Este tipo de metodologia prevê a participação voluntária de cada pessoa envolvida, e assenta no princípio fundamental do consenso do grupo na tomada de decisões. A importância de trabalhar em grupo é aqui vista como um factor chave no desenvolvimento de aspectos referentes ao relacionamento interpessoal, nomeadamente: a tolerância, a escuta activa, o respeito pelo outro e a aceitação de um método altamente democrático em que todos decidem em conjunto o que tratar, como e porquê. É por isso normal, que nem todos os temas sugeridos pelos intervenientes sejam aprofundados, em prol de outros que o grupo (como um todo) achou de maior conveniência trabalhar.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Evento Regional de Lisboa

O 5º elemento

Lisboa, 14 de Outubro de 2008. Foi no auditório do IPJ do Parque das Nações que o evento regional de Lisboa e Vale do Tejo teve início. Um grupo diverso, de cerca de meia centena de jovens esteve presente para elaborar as recomendações da região a ser enviadas à Comissão Europeia.
Ainda na mesa de abertura, Tiago Soares, presidente do Conselho Nacional da Juventude, entidade co-organizadora do evento nacional, deixou um recado: “Estamos num processo de criação de um quadro novo das políticas da juventude. A vocês desejo-vos muita força, muita energia e muito trabalho. Estamos aqui para construir os nossos sonhos!”.

Emancipação Juvenil

Em Lisboa, dei um “pulinho” ao grupo da Emancipação Juvenil. Era um grupo muito diferente entre si, talvez por isso muito silencioso. Ana Isabel, facilitadora, sugeria “ideias mais práticas” justificando que, só assim elas são “mais realistas e possíveis de serem trabalhadas”. As temáticas a debater centraram-se no acesso à habitação e no acesso ao emprego.
Marcelo Fonseca, 18 anos, é natural de Rio Maior e pertence à Juventude Socialista. Para ele, o grupo “não era mau de todo”, mas como vinha muita gente do ensino profissional “as prioridades eram bastante diferentes”. Para além disso, Marcelo achou que a ordem de trabalhos estava condicionada ao máximo. “Eu gostava que se tivesse tocado na questão da maioridade e na questão do voto antes dos 18 anos, mas isso não se encaixava nem no emprego, nem na habitação, por exemplo”.
Para João Almeida, 20 anos, do projecto Agora Sim! (parte do programa Escolhas) este foi um “grupo interessante mas houve algumas dificuldade no sentido de trabalhar em grupo, porque há sempre aquela timidez e falta de à vontade”. No entanto, “foi fixe conhecer pessoas novas.” Para casa, diz levar algumas informações novas referentes “às dificuldades que se tem em comprar ou alugar uma casa e às ajudas que o Estado devia dar aos jovens e não dá”, mas, grosso modo, classifica esta experiência como uma “experiência porreira e a repetir”.

Juventude em Acção

O ciclo de eventos regionais no âmbito da Semana Europeia da Juventude é organizado pela Agência Nacional (AN) para o Programa Juventude em Acção. Este programa, totalmente direccionado para os jovens, tem como objectivo “estimular o sentido activo de cidadania europeia, a solidariedade e tolerância entre os jovens europeus e o seu envolvimento na construção do futuro da União Europeia (UE). O programa promove a mobilidade dentro e fora das fronteiras europeias, a educação não formal, o diálogo intercultural e encoraja a inclusão de todos os jovens, independentemente da sua origem educacional, social ou cultural.” A UE direccionou para o programa Juventude em Acção um total de 885 milhões de euros distribuídos por todos os Estados-membros + 4 (Turquia, Islândia, Noruega e Liechtenstein) a serem investidos entre os anos 2007 (ano de entrada de vigor do programa) e 2013 (ano em que o programa JA termina dando lugar a um outro no ano seguinte).
Para Pompeu Martins, director da AN, com o programa Juventude em Acção ”é dado um passo à frente na justiça social. Pois todos os jovens independentemente da sua condição económico-social podem participar.”
Quanto à iniciativa europeia em consultar os jovens sobre as políticas da juventude Pompeu Martins desmistifica, “às vezes paira no ar que a política se esgota nos partidos. Não é verdade. O que hoje fazemos aqui [no evento regional] é política.”

Um exemplo de sucesso

Alexandre Jacinto, presidente da H2O, uma associação juvenil de Arrouquelas, concelho de Rio Maior, é o coordenador do projecto By the sea we learn. Este projecto teve o apoio do programa Juventude em Acção em 2007, e foi o projecto escolhido para representar Portugal no evento central da Semana Europeia da Juventude, em Bruxelas. By the sea we learn foi uma iniciativa que juntou 52 jovens vindos de 9 países da Europa (Portugal, Espanha, Itália, Hungria, Letónia, Estónia, Bulgária, Polónia e Roménia) a bordo do navio Creoula para fazer a travessia Lisboa-Portimão.
Durante a sessão de abertura do evento regional em Lisboa, Alexandre teve a oportunidade de mostrar um vídeo do projecto. No final da apresentação, aproveitou ainda para lançar o desafio: “ Um bom projecto faz-nos crescer como cidadãos de uma Europa que ser quer mais alargada. O programa Juventude em Acção tornou-se numa ferramenta essencial para nós. É trabalhoso, sim. Mas tudo o que dá muito trabalho, também dá muito gozo!”

Rafaela Grácio

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Evento Regional do Alentejo

Pelos caminhos de Portugal

Azinheira dos Barros, 13 de Outubro de 2008. A mescla de pronúncias que esta “volta a Portugal” nos proporciona continua. O quarto evento regional aconteceu em Azinheira dos Barros, uma pequena povoação com pouco mais de 200 habitantes, localizada no Concelho de Grândola. O Director Regional do IPJ, Carlos Cunha, esclarece a escolha: “por norma, o IPJ Direcção Regional do Alentejo faz sempre por ter iniciativas em parceria com associações locais de zonas menos centralizadas.” Foi a Associação Barrense, sita em Azinheira dos Barros que ajudou a organizar o evento que juntou 30 jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 20 anos. Visto o Alentejo ser, em termos geográficos, a maior região do país, a mobilização e deslocação de jovens participantes para esta consulta regional não foi fácil. Talvez por isso, só tenham estado presentes jovens provenientes da vila de Campo Maior, e das cidades de Portalegre e Beja.

A geração da mudança

Na sessão de abertura que, para além da presença habitual do Director da Agência Nacional e do Director Regional, contou também com a presença do Prof. Carlos Zorrinho, professor catedrático do Departamento de Gestão de Empresas da Universidade de Évora e coordenador Nacional da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico, foi notório o incentivo à participação. “Vocês são a geração da mudança”, alerta Zorrinho, justificando o chavão como uma expressão necessária. “É importante este diálogo com os jovens porque muitas vezes eles não querem aquilo que nós, mais velhos, pensamos que eles querem”, admite Pompeu Martins, Director da Agência Nacional. Carlos Cunha reforçou ainda o “conhecimento do outro” como o primeiro passo a ser dado no processo de Construção Europeia, baseado na tolerância. A importância de “pensar global” foi também marcada, pelo Professor Zorrinho, como “factor chave” para a entrada no mundo do trabalho. O mesmo aproveitou para lembrar que “Portugal apesar de ser ainda um país um bocadinho periférico em relação à Europa tem excelentes relações com o resto do mundo, e está numa posição muito central”.
A posição da juventude saiu reforçada da mesa de abertura, até porque “não faz sentido pensarmos em políticas sectoriais, pois os valores (como os da juventude e a igualdade de género) são transversais a todas as políticas”, reforçou Carlos Zorrinho antes do início da ordem de trabalhos, “o mundo maravilhoso constrói-se a partir de nós”.

Participação e Cidadania

Nesta consulta, decidi perceber de que se fala quando se fala de Participação e Cidadania, o tema de um dos grupos de trabalho da auscultação nacional. A Sónia e o Filipe, ambos da Escola Secundária de Campo Maior tentaram esclarecer-me: “ A cidadania é um tema abrangente, é a base dos nossos direitos e deveres como cidadãos. Para termos esses direitos que tanto reivindicamos devemos cumprir as nossas obrigações perante a população em geral, ” define a Sónia. Mas é exercendo a cidadania que “os jovens têm um papel fundamental”, continua. “Porque o mundo depende da nossa geração. Os jovens devem participar mais em todas as acções de campanha de sensibilização e de apoio à cultura, por exemplo. O voto também devia ser alargado em muitas das questões relacionadas com a educação, porque nós somos a educação desta geração e nós temos de fundamentar as nossas propostas. Temos de criar meios que nos obriguem a participar e a ter um papel interveniente na nossa sociedade” sugere.
Filipe vai mais além e critica o modo como os políticos tratam os jovens, “geralmente a classe política costuma ignorar a opinião dos jovens”. No entanto, assume que “são encontros como este” que lhes dão a oportunidade de mudar e sugerir alterações. E deixa a nota “ era bom que aos níveis local e regional fossem criados conselhos de juventude que englobassem associações juvenis, para que estas possam participar nas decisões políticas efectuadas.

A garantia final

Como neste ciclo de consultas regionais o que conta é a palavra deles [dos jovens], é garantido pela Agência Nacional o envio de todas as recomendações feitas ao nível regional para o nível nacional, onde serão posteriormente analisadas e discutidas entre os seleccionados a representar o país e as suas regiões. A Sónia e o Filipe estão entre esses seleccionados e marcarão presença em Portimão já no próximo mês de Novembro.
Apesar do baixo número de participantes que o evento do Alentejo conseguiu reunir, ao encerrar o dia de trabalhos, Carlos Cunha termina com uma certeza “o Alentejo vai mudar muito nos próximos 10 anos e eu acredito que os jovens da região estão à altura do desafio.”

Rafaela Grácio

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Evento Regional da Madeira

As Expectativas

Funchal, 11 de Outubro de 2008. De Faro para o Funchal a “maratona” continua e tudo parece a postos para o evento regional da ilha da Madeira. Foram cerca de 55 jovens vindos de 5 dos 11 municípios da região autónoma a marcar presença nas instalações da escola da APEL.
Ainda a escola não tinha aberto e já dois participantes, o Roberto e a Marina, se afilavam timidamente à entrada. São ambos estudantes na Universidade da Madeira e membros da Associação de Escuteiros de Portugal (AEP). Estão presentes, graças a oportunidade que a chefia regional da AEP lhes proporcionou.
Dos temas a debate a Diversidade e Igualdade de Oportunidades; o Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e a Cultura, Criatividade e Inovação estão entre os preferidos, mas quando fizeram a inscrição para participar no evento, o difícil foi escolher entre os 8 grupos de trabalho propostos: “todos são muito interessantes”, confessa Roberto.
Numa breve conversa que tivemos antes da sessão de abertura falaram-me das expectativas. Os dois vêem no evento uma “boa oportunidade para alargar horizontes e novos leques de informação.” Será que a vontade se cumpre?

Incentivo, debate, discussão

Na sessão plenária de abertura, Pompeu Martins, Director da Agência Nacional para a Execução do Programa Juventude em Acção (AN) justifica o rol de eventos regionais: “a Comissão Europeia entendeu que deveria perguntar aos jovens sobre o que eles pretendem que sejam as políticas da juventude para os próximos 10 anos. Nós, em Portugal, quisemos ir para além dos números do Eurobarómetro, quisemos estar com os jovens e perceber quais as características de cada região.”
A representar o Governo Regional da Madeira, Brazão de Castro, Secretário Regional dos Recursos Humanos relembrou aos presentes que “ a Madeira e os seus cidadãos estão solidários com a construção Europeia. Os jovens querem e devem ter um papel activo na sociedade. É preocupação do Governo Regional consultar os jovens e incentivá-los ao debate e à discussão de temas da juventude.” Um discurso breve que terminou com um apelo directo: “Espero que no final deste encontro estejamos todos mais habilitados!”

O primeiro feedback

À saída do grupo Cultura, Criatividade e Inovação encontro a Marina. Neste grupo trabalharam sobre temáticas mais direccionadas como a Educação para a Cultura; a Inovação e Tecnologias e o Empreendedorismo Social/Económico e Cultural. Não são temas fáceis de tratar, mas o resultado é satisfatório, até porque “Criatividade, Cultura e Inovação” é o tema do próximo ano Europeu, recorda Nuno, o facilitador do grupo. Marina está satisfeita. “ Aprendi novas coisas e também dei o meu contributo. Foi muito interessante! Aprendi que podemos sempre inovar e não copiar. Sinto-me mais completa. Já tenho novas ideias para aplicar futuramente!”, relata.
Na mesma altura, o Roberto saiu do grupo da Diversidade. “Gostei muito”, confirma entusiasmado. “Aprendi, que existe muita desigualdade e injustiças no mundo, e que para melhorar podemos apoiar novas iniciativas. Temos de parar de pensar só em nós e perceber que existem outras pessoas na sociedade que também precisam de apoio e de oportunidades.”

Final do dia de trabalhos

Chegada a hora de apresentar resultados, o auditório enche-se novamente. Com os relatores de cada grupo, vem também uma palavra de força e esperança: “Venham mais iniciativas destas”, diz um. “É muito importante sabermos que temos um papel participativo na sociedade”, considera outro. De facto.
Marina, a jovem que segui durante o dia, ainda conseguiu ir mais além e encontrar no evento um desafio à sua personalidade: “ Normalmente, tenho muita dificuldade em falar para os outros em público, e nestas actividades encontro uma maneira de me desinibir ao mesmo tempo que dou o meu contributo. Foi uma grande experiência!”, confessa.
Na verdade, foi mais uma prova de que a juventude tem grandes potencialidades e deve ser auscultada sempre que possível. Jorge Carvalho, Director regional da Juventude afirma: “É muito importante para nós, agentes políticos, podermos contar com a juventude. E se a minha geração foi chamada rasca, a vossa deixa-nos à rasca”. Afinal de contas “está provado que quando se dá oportunidade aos jovens de serem auscultados os resultados são muito positivos”, termina Pompeu Martins.


Rafaela Grácio

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Evento de Faro

O Sábio e o Pássaro

Num determinado reino vivia um sábio. Ele era o mais sábio dos sábios e nenhuma questão que lhe fosse levada ficava sem solução. Ele sabia tudo.

Existia nesse reino um jovem plebeu que não se conformava com isso. Ele não aceitava o facto de o sábio conseguir decifrar qualquer enigma, fosse ele qual fosse. Durante muito tempo o jovem arquitectou uma forma de dar a volta ao sábio.

- " Tem que existir uma forma de enganar o sábio. Ninguém sabe tudo de tudo "... Pensava ele.
Até que um dia ele descobriu uma forma, a qual nem mesmo o mais sábio dos sábios teria saída.
- "Colocarei nas minhas mãos, levemente fechadas, um pequeno pássaro vivo e perguntarei ao sábio se o pássaro está vivo ou morto. Se ele responder que está morto, eu abrirei as mãos e libertarei o pássaro para que ele voe. Se ele responder que está vivo, eu vou apertar o pássaro com os dedos até o matar. O sábio não terá saída.

Assim fez.

Diante do sábio ele procedeu como acima exposto, perguntando se o pássaro estava vivo ou morto.

O sábio olhou bem nos olhos do jovem e respondeu:
- " Meu bom jovem, a vida deste pássaro está nas tuas mãos ".

Faro, 10 de Outubro de 2008. Pouco mais de um dia passado depois do primeiro encontro em Castelo Branco, rumámos ao Algarve para o segundo evento regional. Na iniciativa a sul estiveram “cerca de 60 jovens vindos dos 16 municípios algarvios, com uma média de idades que ronda os 17 anos”, esclareceu a directora da delegação regional do IPJ, Sara Gomes Brito. São jovens, na sua maioria, provenientes de escolas profissionais, associações, universidades e institutos, e estão mais do que preparados para dar o seu contributo.

De entre os 8 grupos de trabalho, desta vez resolvi seguir o de Educação Formal e Educação Não Formal. Para muitos dos presentes qualquer uma das 8 temáticas propostas é assunto novo e este da Educação Formal e Não Formal não foge à regra. Mas afinal, de que falamos quando falamos destes dois tipos de educação?

“A Educação Formal refere-se ao sistema educativo estruturado que se inicia na escola primária até ao ensino superior. A Educação Não-formal remete para qualquer programa planeado de educação pessoal e social para jovens. (…) Tem carácter voluntário; é acessível a todos (o mais possível) e encontra-se baseada não só numa aprendizagem individual como também em grupo.” (Fonte: http://www.am.unisal.br/pos/stricto-educacao/pdf/educacao_processo_desenvolvimento.pdf).

Depois de um quebra-gelo inicial para que todos se conheçam um pouco melhor, vem a já conhecida “chuva de ideias”. Pretende-se agora que todos pensem e escrevam nos posters afixados aquilo que entendem sobre o Ensino Obrigatório; o Processo de Bolonha e sobre o Potencial e Reconhecimento da Educação Não Formal (ENF). O arranque não é fácil. “Está tudo ainda a morrer de timidez”, refere a participante Susana Cotovia. É normal. Muitos estreiam-se agora em auscultações do género e até mesmo as dinâmicas e os métodos usados são algo de novo e que, à partida, intimidam. Não podemos esquecer que “este apelo à participação activa dos jovens em geral, sobre as políticas da juventude, é a primeira vez que se cumpre à escala europeia”, recorda a Directora-Adjunta da Agência Nacional do Programa Juventude em Acção, Maria Manuel Silva.

O grupo divide-se entretanto nos 3 grupos distintos sob os temas mencionados acima. À volta do tema Potencial e Reconhecimento da ENF sentam-se o Adriano Chaveiro, a Edite Jesus, a Susana Cotovia, a Sandra Galego e a Patrícia Francisco. Um grupo diverso mas com ideias muito semelhantes no referente ao tópico em debate. “Nós somos muito comodistas”, desabafa Sandra “e neste país o que conta é os diplomas, não se dá importância à ENF”. Ao que parece, a inércia define muitos portugueses. “As pessoas reclamam mas ninguém vai ao sítio certo à procura de informação”, denuncia Patrícia. E o grupo continua entregue ao debate. A decisão para a elaboração das recomendações (a escrever na folha dada pelo facilitador) não é fácil. A 5 minutos do tempo terminar, o grupo que acompanhei começa a escrever. Foram muitas as ideias e as conversas são mesmo como as cerejas: vêm sempre umas atrás das outras!

No final, Bruno António, o facilitador do grupo, pede uma palavra sobre as últimas horas passadas em conjunto. Susana termina com 3: “devia haver mais”.

A auscultação da região do Algarve finda com agradecimentos e notas de esperança. Sara Gomes Brito classifica o dia como “um dia magnífico de trabalho em que foi dada voz à juventude” e manifesta sem quaisquer rodeios o orgulho que tem em ser Directora Regional do IPJ e em ser anfitriã do evento nacional da semana da juventude, em Portimão, entre os dias 7 e 9 de Novembro. A poucos minutos de encerrar, a Directora Regional, fez ainda questão de contar a história do sábio e do pássaro, aproveitando o desfecho para lembrar aos presentes que “o futuro está nas vossas mãos!”

Rafaela Grácio

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Evento da Região Centro

Partida, largada, fugida!

Castelo Branco, 8 de Outubro de 2008. Foi no auditório das instalações do Instituto Português da Juventude (IPJ) de Castelo Branco que se deu início à “maratona” dos eventos regionais da juventude. Foram cerca de 150 jovens, vindos dos 6 distritos da região centro para a primeira das 7 auscultações feitas a nível nacional sobre as políticas da juventude.

O Director Regional do IPJ, Miguel Nascimento, não podia estar mais satisfeito. “É um orgulho muito grande o facto de a Agência Nacional ter escolhido Castelo Branco para ser a pedra de lançamento para a celebração da Semana Europeia da Juventude a nível nacional”, refere. Sendo uma região grande e extremamente diversificada no que toca a conselhos, freguesias e associações juvenis, o trabalho do IPJ e da Direcção Regional em parceria e sintonia com a Agência Nacional mostra resultados. “Temo-nos pautado por fazer o nosso melhor. As pessoas que trabalham comigo, bem como toda a equipa, são peças chave nesta actividade. Se não fosse o trabalho empenhado e dedicado dos funcionários do IPJ e de todos os envolvidos no programa Juventude em Acção não seria possível este trabalho alargado em toda a região”, assegura Miguel Nascimento.

Até ao próximo dia 9 de Novembro, um pouco por toda a Europa dos 27 mais 4 países (os 27 Estado-membro mais a Noruega, Islândia, Liechtenstein e Turquia) vai celebrar-se a Semana Europeia da Juventude. Concertos, actividades, auscultações e seminários são algumas das modalidades eleitas pelos estados como forma de promoção e incentivo à participação juvenil. O objectivo? Elaborar recomendações concretas ao nível nacional para serem a posteriori debatidas a nível europeu de modo a figurar num plano de políticas da juventude para a próxima década. Imaginam a responsabilidade?

Os grupos de trabalho

Uma equipa de 4 facilitadores da bolsa de formadores do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) está garantida a cada evento regional para tornar tudo mais fácil. Em 8 grupos de trabalho divididos ao longo do dia (4 de manhã e 4 à tarde), os participantes são envolvidos numa dinâmica de educação não formal de modo a produzir autonomamente ideias concretas a serem apresentadas no final do dia de trabalhos. Os temas são iguais para todas as regiões: Participação e Cidadania; Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; Cooperação Global; Saúde; Diversidade e Igualdade de Oportunidades; Educação Formal e Não Formal; Emancipação Juvenil; Cultura, Criatividade e Inovação.

Para muitos, esta é a primeira vez que participam em encontros do género. Num primeiro grupo que visito, o da Diversidade e Igualdade de Oportunidades, o pouco à vontade para participar é notório. O tema é sério e exige concentração. Mas “é tudo tão vasto”, oiço de um participante. Inclusão Social; Luta contra o racismo e discriminação; actividades interculturais e igualdades de oportunidades revelam-se os pontos de partida. São precisas ideias. Na verdade, é necessário uma “chuva de ideias” para se ter conclusões diversas e reais.

Aos poucos, a palavra vai surgindo e no final, mais tempo houvesse, mais se debatia e discutia. “Acho que isto é exemplo da democracia no seu melhor”, diz a participante Helena Pinho, 28 anos, psicóloga. “Os temas são muito interessantes bem como a metodologia. A mais-valia deste método menos formal de trabalho é que toda a gente participa. Só era preciso mais tempo. Todos acabam por dar um bocadinho de si e as conclusões ficam muito mais ricas”, continua.

Cada grupo de trabalho tem um relator. O relator é o responsável pela redacção do texto final a apresentar em auditório aquando da sessão de encerramento da consulta regional. Neste grupo que sigo não é fácil conseguir um voluntário. Olhares e sorrisos cruzam-se a medo na sala de trabalho. “Eu não, eu não” sussurram uns. A meio da sala, uma mão no ar: Diogo, o corajoso. “Temos relator. Uma salva de palmas”, anuncia Andreia Henriques, a facilitadora do grupo. À saída da sala, encontro o Diogo. Acabava de redigir o documento final do seu grupo. O Diogo tem 18 anos, vem de Vila Velha, e é aluno da Escola Secundária Mato Lusitano. Para ele, tudo isto é novo: os temas, a dinâmica, a responsabilidade. Diz-me que ao escolher este workshop espera ficar a saber “mais alguma coisa”. Para ele o tema racismo é um dos mais importantes. “Pelo número de emigrantes e imigrantes que Portugal tem, devia haver menos racismo. Começando logo desde cedo por juntar jovens de várias etnias e países para que não haja conflitos no futuro”, justifica.

A importância de ouvir

Ao falarmos de auscultação, estamos a pedir e a definir um espaço livre de debate e pensamento sobre temáticas relevantes para um investimento futuro que se pretende eficaz. Não é fácil, mas também ninguém diz que é impossível. Ao celebrar 20 anos de políticas e programas da juventude, a Comissão Europeia dá agora um passo importante no processo consultivo aos jovens. Querem ouvi-los e torná-los co-responsáveis pelas decisões tomadas ao nível da juventude na década que aí se avizinha. A determinação e o empenho com que a Agência Nacional está a levar esta missão são, por isso, consequentes. “É importante ouvir, falar e discutir porque cada vez se comunica menos”, diz-me o engenheiro Rui Moreira, presente em representação do Centro de Informação Europeia Europe Direct e da direcção regional da Agricultura e das Pescas do Centro. “É importante que eles façam parte da construção da sociedade a que eles vão pertencer. Que discutam a sociedade que eles vão viver. Porque, como dizem alguns pensadores: a discutir é que nasce a luz.”

Rafaela Grácio